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A derrota de Bolsonaro criou um problema de ordem cosmológica para uma parcela do eleitorado evangélico, um problema que está se desdobrando na radicalização política desse mesmo subgrupo. Explico! Se Bolsonaro era o escolhido de Deus como ele pode ter perdido as eleições?

Deus falhou em sua escolha? Os pastores se enganaram/mentiram quando profetizavam a sua vitória? Mas e as pessoas que foram tocadas pelo Espírito durante os cultos de campanha? E os episódios de glossolalia?
Para os não-evangélicos podem até parecer problemas triviais, mas estamos falando de alguns dos pilares fundamentais de algumas denominações religiosas, a crença na inefabilidade divina, a autoridade pastoral e a experiência (no sentido profundo) do culto.
Um vacilo em qualquer um destes pilares pode levar o "sistema" a ruir. Levando o indivíduo a buscar outro sistema de referências, símbolos, para dar sentido a sua vida. Existem trabalhos bem interessantes na antropologia que lidam com isso a partir da experiência LGBTQI+.
Mas voltemos ao que está emergindo por conta da eleição: se de um lado observamos um número razoável de pessoas que abandonaram ou se afastaram temporariamente de suas igrejas por conta da eleição, também tivemos de "radicalizados".
Pessoas que, diante da derrota eleitoral, se apegaram a uma "elaboração secundária" capaz de sustentar os pilares ameaçados pelo evento. Deus não errou, o pastor não mentiu, ela não se equivocou quando se sentiu tocada pelo Espírito Santo, o que aconteceu foi uma fraude!
Você acompanha a adesão ao golpismo de pessoas/grupos que até ontem diziam que confiavam na democracia, que, inclusive, condenavam as falas golpistas do próprio presidente, e percebe essa necessidade de "preservação" da estrutura religiosa.
Por isso, entre eles, abundam notícias sobre pactos de Lula e Janja com entidades demoníacas, inclusive, a doença do presidente sendo vista como um sintoma do "feitiço" que paira contra o Brasil.
E estamos falando de denominações que tem na luta ativa contra o feitiço/feiticeiros/demônios um dos aspectos mais espetaculares e apaixonantes.
Mais sobre isso agora na twitch twitch.tv/ocalheiros
Orlando Calheiros (Escutem o Cálice!)
Ogã de Ogum, Doutor em Antropologia Social (UFRJ), fotógrafo e apresentador do @benzinaInc
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