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Marcos Queiroz

Marcos Queiroz
@marcosvlqueiroz

Nov 25, 2022
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Na Copa de 1938, encantados pelo futebol da seleção brasileira, os franceses disseram que os jogadores pareciam bailarinos. Leônidas da Silva, chamado de acrobata e malabarista pela imprensa européia, faria uma correção: não era balé, era samba. Miudinho. Pernada negra. Capoeira.

Voleio de Richarlison no segundo gol contra a Sérvia.
Aliás, a performance do Brasil na França, em 1938, é um daqueles momentos decisivos na construção do imaginário nacional. Gilberto Freyre se valeria dela para publicar o seu famoso texto "Football Mulato", talvez o artigo esportivo mais influente da nossa história.
Manchete do texto Football Mulato de Gilberto Freyre.
Cinco anos depois da publicação de "Casa-Grande e Senzala", o futebol vistoso da seleção brasileira, praticado sobretudo por jogadores negros e "mulatos", seria uma comprovação das teses da mestiçagem, da harmonia racial e do caráter dionisíaco da sociedade brasileira.
Capa do livro Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.
Porém, faltou perguntar para os próprios jogadores negros qual sentido eles davam para o seu estilo de jogo. Aí entra Leônidas, que muito tempo depois diria: "o drible é samba. São os passos do miudinho dentro de campo. E começamos a driblar para fugir do racismo dos árbitros."
Leônidas da Silva fazendo embaixadinha.
Assim, no momento em que o futebol se desegregava, o drible nasceu como um artifício para costurar defesas e fugir do capricho dos juízes, que não marcavam falta nos atos de violência e brutalidade contra jogadores negros. Era arte e reinvenção africana dentro das quatro linhas.
Garrincha partindo para driblar um defensor.
Mais do que isso: ao invés de comprovar o caráter democrático das nossas relações raciais, o drible evidencia o oposto, pois surgiu para enfrentar e denunciar o racismo. O filósofo Renato Noguera conta parte dessa história no seguinte texto: revistazcultural.pacc.ufrj.br/o-conceito-de-…
Título do texto de Renato Noguera: O CONCEITO DE DRIBLE E O DRIBLE DO CONCEITO: ANALOGIAS ENTRE A HISTÓRIA DO NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO E DO EPISTEMICÍDIO NA FILOSOFIA.
Marcos Queiroz

Marcos Queiroz

@marcosvlqueiroz
Calango do barro vermelho do planalto central. Prof. @sejaidp. PhD @unb_oficial. Sanduíche @UNALOficial. Alumni @fulbrightbrasil na @DukeU. Vasco.
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