Na Copa de 1938, encantados pelo futebol da seleção brasileira, os franceses disseram que os jogadores pareciam bailarinos. Leônidas da Silva, chamado de acrobata e malabarista pela imprensa européia, faria uma correção: não era balé, era samba. Miudinho. Pernada negra. Capoeira.
Aliás, a performance do Brasil na França, em 1938, é um daqueles momentos decisivos na construção do imaginário nacional. Gilberto Freyre se valeria dela para publicar o seu famoso texto "Football Mulato", talvez o artigo esportivo mais influente da nossa história.
Cinco anos depois da publicação de "Casa-Grande e Senzala", o futebol vistoso da seleção brasileira, praticado sobretudo por jogadores negros e "mulatos", seria uma comprovação das teses da mestiçagem, da harmonia racial e do caráter dionisíaco da sociedade brasileira.
Porém, faltou perguntar para os próprios jogadores negros qual sentido eles davam para o seu estilo de jogo. Aí entra Leônidas, que muito tempo depois diria: "o drible é samba. São os passos do miudinho dentro de campo. E começamos a driblar para fugir do racismo dos árbitros."
Assim, no momento em que o futebol se desegregava, o drible nasceu como um artifício para costurar defesas e fugir do capricho dos juízes, que não marcavam falta nos atos de violência e brutalidade contra jogadores negros. Era arte e reinvenção africana dentro das quatro linhas.
Mais do que isso: ao invés de comprovar o caráter democrático das nossas relações raciais, o drible evidencia o oposto, pois surgiu para enfrentar e denunciar o racismo.
O filósofo Renato Noguera conta parte dessa história no seguinte texto:
revistazcultural.pacc.ufrj.br/o-conceito-de-…