Pesquisa Brasmarket saiu hoje. Ela custou 32 mil reais. De curiosidade, ela utiliza renda familiar de 80% abaixo de 2 salários mínimos e , o que dificulta compará-la com as outras pesquisas. O questionário é extremamente simples, tanto que tem só 1 página. Siga o fio!

O resultado da pesquisa estimulada é de Bolsonaro vencendo com 44,9% dos votos. A pesquisa mudou pouca coisa em relação à pesquisa da semana passada, já que todas as linhas variaram dentro da margem de erro.

A Brasmarket, que é feita por telefone, entrevistou gente em 504 cidades. Isso só é possível numa pesquisa remota mesmo. Tal capilaridade em pesquisas presenciais teria um custo altíssimo. Se alguém tiver o relatório completo aí, me mandem o link. Ainda não encontrei no site.

Relatório na mão, continuamos a análise. Quanto à metodologia e as datas em que foram feitas as entrevistas:

Quanto à amostra, está condizente com o TSE nas idades. A Brasmarket entrevista um percentual muito maior de pessoas mais pobres. Isso pode significar duas coisas: as pessoas estão respondendo renda errado, ou a Brasmarket está captando que os mais pobres votam em Bolsonaro.

Na espontânea, a diferença entre Bolsonaro e Lula é de 14,2 pontos percentuais. Bolsonaro variou, na espontânea, 3 pontos percentuais para cima, acima da margem de erro.

Rejeição de Loola é muito mais condizente na Brasmarket com o que temos visto em relação a outras pesquisas, como a Futura, que mostra muito mais gente com medo da volta do PT do que da continuidade do governo. Rejeição de Loola crescendo desde agosto. Bolsonaro estável.

Pesquisa Brasmarket também detecta mais avaliações positivas de Bolsonaro que outras pesquisas. Não há, no relatório, quebras por renda, religião ou região. Como está com mais de 80% de pessoas com renda abaixo de 2 SM, esse público que está dando vitória a Bolsonaro.

Essa pesquisa destoa muito do Datafolha e IPEC, que entrevistam também um número maior de pessoas com renda abaixo de 2 SM, porém com porcentagens menores que 80%. O resultado ser totalmente diferente mostra como as presenciais não conseguem captar bem os resultados desse público

Isso pode ser porque as pesquisas presenciais, feitas em fluxos ou domicílios durante o dia, tende a encontrar mais pessoas idosas, jovens, desempregados ou pessoas que trabalham constantemente na rua. Não há entrevistas feitas em escritórios, condomínios etc. Apenas na porta.

Por telefone é mais fácil atingir pessoas que estejam no trabalho, em casa, em apartamentos ou escritórios. A depender também dos pontos de fluxo escolhidos, como vimos na IPEC, o resultado também pode variar muito. A Brasmarket não tem nada disso, por ser feita por telefone.

Essas são as possíveis fontes de erro das pesquisas presenciais que são pouco comentadas. Afinal os institutos não dizem os horários, alguns não detalham os endereços onde foram feitas as pesquisas, nem como foi feito o recorte e análise dos dados pós-coleta.

Portanto há muito o que evoluir no quesito transparência. Isso em todas as pesquisas. Uma regra que eu colocaria para os institutos é a obrigação de publicar o arquivo de cidades e bairros pouco antes da divulgação, e não 1, 2 dias depois da divulgação. Isso ajudaria muito.

Além disso, sugeriria a gravação e transmissão ao vivo dos sorteios de bairros e cidades pré-coleta, bem como das análises e recortes pós-coleta, tornando tudo transparente para a população e tornando o processo conhecido por todos.

Por último, eliminaria questionários longos demais e cheios de narrativas. Questionários longos acabam selecionando pessoas que querem muito propagandear seu voto, pois dedicarão tempo razoável, no meio da rua, para atender entrevistadores. Isso tem que ser mais ágil.

E pesquisa não pode servir para ser uma fonte de pautas da mídia, fazendo agenda setting ou espiral de silêncio. Tem que ser simples, objetiva, fazer as perguntas que precisa e só. Narrativas demais criam ruídos e uma probabilidade maior de não-resposta a diversas perguntas.

Fiquem ligados! Será que veremos questionários mais objetivos um dia? Assim esperamos, todas as pesquisas com questionários mais objetivos têm dado resultados totalmente diferentes das pesquisas com narrativas embutidas no questionário.