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Pensar a História

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Nov 25, 2022
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Há 161 anos, em 24/11/1861, nascia o poeta catarinense Cruz e Sousa. Expoente máximo do Simbolismo no Brasil, Cruz e Sousa deu enorme contribuição para as inovações estilísticas no uso poético da língua portuguesa, do lirismo imagístico ao uso primoroso da aliteração. 1/25

Considerado um dos primeiros autores negros a ingressar nos cânones literários nacionais, produziu obras de grande originalidade libertária, abrangendo sobretudo o misticismo e a dor existencial. 2/25
João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), filho do pedreiro Guilherme da Cruz e da lavadeira Carolina Eva da Conceição, ambos escravos alforriados que serviam ao marechal Guilherme Xavier de Sousa. 3/25
Impossibilitada de ter filhos, a esposa do marechal, Clarinda Fagundes, afeiçoou-se ao menino, assumindo a sua tutela. Entre 1871 e 1875, estudou no Ateneu Provincial Catarinense, onde cursou francês, inglês, latim, grego, matemática e ciências naturais. 4/25
Nessa instituição, foi aluno de Fritz Müller, colaborador de Charles Darwin. Em carta enviada ao irmão em 1876, Müller elogiou a inteligência de Cruz e Sousa, apontando-o como evidência que contrariava as teorias racistas sobre a superioridade intelectual dos brancos. 5/25
Após concluir os estudos no Ateneu, Cruz e Sousa se dedicou ao magistério e publicou alguns poemas nos jornais da província. Em 1881, em parceria com Virgílio Várzea e Manuel dos Santos Lostada, fundou o jornal literário "Colombo", perfilado ao parnasianismo. 6/25
Nesse mesmo ano, começou a trabalhar na Cia. Dramática Julieta dos Santos, com a qual viajou por todo o Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. A experiência lhe propiciou um contato mais intenso com o flagelo da escravidão, levando-o à defesa vigorosa do abolicionismo. 7/25
Organizou uma série de conferências nas capitais brasileiras, defendendo o fim da escravidão. O ideal antiescravagista norteou sua atuação no jornalismo. Escreveu para a "Tribuna Popular", ajudando a consolidar sua linha editorial republicana e abolicionista. 8/25
Também dirigiu o semanário "O Moleque", imprimindo um forte viés de crítica política e social, causando grande desconforto nos círculos abastados da província. A oposição que sofria dos setores mais reacionários era enormemente intensificada pelo preconceito racial. 9/25
Em 1883, o escritor foi nomeado promotor de Laguna, mas foi impedido de assumir o cargo, uma vez que os políticos locais não aceitavam um negro na função. Malgrado o ambiente de discriminação, Cruz e Sousa consolidou-se como um dos maiores intelectuais da província. 10/25
Em 1885, publicou junto a Virgílio Várzea seu 1º livro, "Tropos e Fantasias", coletânea de poemas em prosa. A obra anteciparia várias características de sua produção posterior, incluindo o léxico requintado e o gosto pelo experimentalismo. 11/25
Três anos depois, aceitando o convite de Oscar Rosas, viajou ao RJ, em busca de um ambiente menos hostil e mais propício ao ofício de escritor. Na antiga capital, fez amizade com Nestor Vítor, que se tornaria importante divulgador de sua obra. 12/25
Em 1890, mudou-se para o Rio, onde trabalhou como arquivista da Central do Brasil e colaborou com diversos periódicos ("Ilustrada", "Novidades", "Folha Popular", "O Tempo"). No ano seguinte, publicou os primeiros artigos-manifestos do Simbolismo. 13/25
Em 1893, publicou os livros "Missal" (prosa) e "Broquéis" (verso), que o consagrariam como o maior representante do Simbolismo no Brasil. As obras aliavam características simbolistas, como a musicalidade e a temática metafórica, ao preciosismo sintático parnasiano. 14/25
Nos anos seguintes, Cruz e Sousa seguiu produzindo poemas de inspiração simbolista, abandonando o formalismo léxico em favor da expressão poética e da musicalidade, versando sobre temas como o misticismo, o individualismo, os estados da alma, a noite e o mistério. 15/25
Ainda em 1893, casou-se com Gavita Rosa Gonçalves, também descendente de escravos. O matrimônio gerou 4 filhos: Raul, Guilherme, Reinaldo e João. Dependendo de empregos mal remunerados, a família teve de lidar com severas privações financeiras. 16/25
A situação se agravaria a partir de 1894, quando Cruz e Sousa contraiu tuberculose em função das péssimas condições de trabalho na Central do Brasil. Gavita, por sua vez, desenvolveu graves distúrbios mentais após o nascimento do segundo filho. 17/25
Discriminação, pobreza, melancolia e morte seriam temas presentes nos últimos poemas de Cruz e Sousa. Em "Emparedado", o escritor expressa sua "inevitável revolta" com os obstáculos interpostos por uma sociedade racista e injusta. 18/25
Em 1897, o escritor concluiu o livro de prosa poética "Evocações", mas o agravamento da doença o impediu de publicar a obra. O escritor se mudou para Curral Novo, em Minas Gerais, na esperança de que as condições climáticas mais favoráveis ajudassem em sua recuperação. 19/25
A tentativa foi em vão. Cruz e Sousa faleceu em 19/03/1898, aos 36 anos. A família teve a mesma sina: os 4 filhos morreram de tuberculose antes de atingirem a maioridade. Testemunhando o destino trágico dos filhos, Gavita enlouqueceu. Em 1901, também sucumbiu à moléstia. 20/25
José do Patrocínio arcou com as despesas do funeral do escritor, sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no RJ. Seus escritos foram reunidos por amigos e postumamente publicados: "Evocações" (1898), "Faróis" (1900) e "Últimos Sonetos" (1905). 21/25
Três coletâneas contendo alguns poemas inéditos foram lançadas em 1961, em seu centenário de nascimento ("Outras Evocações", "O Livro Derradeiro" e "Dispersos"). Todas as obras transparecem o que Ivone Daré Rabello chamou de "respostas líricas do excluído",... 22/25
... isso é, poemas que sintetizam os dilemas e os infortúnios advindos do jugo de uma sociedade escravocrata que jamais o aceitou. Como observou Ronald de Carvalho, "não há quase um verso seu em que não haja um grito contra a opressão do ambiente que o cercava". 23/25
Em 2007, os restos mortais do escritor foram trasladados para Florianópolis e depositados no Palácio Cruz e Sousa, antiga sede do governo catarinense. É o patrono da cadeira nº. 15 da Academia Catarinense de Letras. 24/25
Por seu enorme talento literário e contribuições para a cultura brasileira, recebeu as alcunhas de "Dante Negro" e "Cisne Negro". É considerado por muitos como o maior poeta brasileiro do século XIX e um dos maiores nomes do simbolismo, ao lado de Mallarmé e Stefan George. 25/25
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"Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade". Karl Marx
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