Antes do jogo de hoje, outra vez o técnico do Irã, o português Carlos Queiroz, se manifestou contra perguntas sobre política.
“Por que você não pergunta a Southgate [técnico da Inglaterra] o que ele acha da Inglaterra e dos EUA terem deixado as mulheres do Afeganistão sozinhas?”
A pergunta havia sido feita por uma repórter da BBC.
Ao longo da coletiva, Queiroz havia ressaltado a importância da liberdade de imprensa, mas dizia que era hora de outros técnicos responderem sobre esses assuntos.
O técnico português é bem identificado com a seleção do Irã.
Ele é o treinador que mais tempo passou à frente da seleção, entre 2011 e 2019, período em que a classificou para duas Copas do Mundo.
Antes do Mundial do Catar, ele foi chamado de volta.
Das 3 vitórias que o Irã tem em Mundiais, 2 foram com Queiroz à frente, contando a de hoje
A repórter da BBC havia perguntado ao atacante Mehdi Taremi se tinha um recado pras pessoas protestando no Irã e se havia pressão para voltarem a cantar o hino.
Taremi respondeu que não havia pressão e que ele e milhares de pessoas “como ele” não podiam fazer nada por mudanças.
Apesar disso, os jogadores voltaram a cantar o hino iraniano diante de Gales, que foi fortemente vaiado por parte da torcida presente no estádio.
Falamos aqui que o hino tem sido um momento importante para os galeses e iranianos, por motivos diferentes: twitter.com/copaalemdacopa…
Duas das cenas mais emocionantes da primeira rodada da Copa envolveram hinos nacionais em situações opostas: o protesto mudo do Irã, o canto a plenos pulmões de Gales.
O contraste, que deve aparecer amanhã com os países frente a frente, tem a ver também com o que dizem os hinos.
O jornalista Maziar Bahari, opositor do governo, é uma das fontes que garantem que os jogadores do Irã estão sob vigilância de agentes secretos no Catar, que acompanham todos os seus movimentos.
Ele diz que há risco de prisão e fim de carreira precoce para quem se manifestar.
Após a vitória contra Gales, o meia Rouzbeh Cheshmi, autor do 1º gol, disse que a seleção sofreu “pressões injustas não relacionadas ao futebol” após a estreia, uma goleada de 6 a 2 contra a Inglaterra.
E a questão futebolística ganhou outro contorno após mais uma prisão no Irã.
Ontem, o Irã prendeu o jogador Voria Ghafouri, que esteve próximo de ir pra Copa de 2018, mas foi cortado da convocação final. A prisão se deu por “propaganda contra o governo”.
Apesar do que disse Queiroz, contudo, Southgate já respondeu perguntas políticas nessa Copa do Mundo.
Um jornalista iraniano perguntou a ele, no início da semana, sobre “mulheres e crianças inocentes” que a Inglaterra matou no Afeganistão e no Iraque, bem como sobre protestos populares contra o funeral da rainha e contra a inflação do combustível devido às sanções contra a Rússia
Southgate disse que entendia a frustração dos jogadores e do técnico do Irã em responder perguntas sobre política, e disse que ele mesmo tem de falar muito sobre esse tema na Inglaterra. Ele virou alvo dos conservadores britânicos porque seus jogadores se ajoelham antes dos jogos
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