Hoje é um dia muito importante para mim. Há vinte anos eu deixei meu carro em casa e fui trabalhar de ônibus.
Era uma experiência, mas nunca mais voltei a usar um carro no dia a dia. Depois de um tempo vendi. Em São Paulo reencontrei a bicicleta. Em vinte anos envelheci dez.
Nesses vinte anos:
- Milhares de m² foram cobertos de asfalto e concreto para carros
- O trânsito só piorou
- Os carros estão maiores e muito mais caros
- Os combustíveis só fizeram subir
- Ainda matamos quase um Vietnam por ano nas estradas e ruas
Como serão os próximos?
O que era ciclo ativismo virou consciência de classe e de como o carro é um instrumento para manter a classe trabalhadora presa a sonhos vazios, como o Porsche que encontrei parado no trânsito numa segunda pela manhã. Você tem um Porsche e ainda acorda cedo na segunda companheiro
Largar o carro mudou quem eu conheci, como convivi, até mexeu no destino amoroso.
Minha mulher me conheceu entrando em um escritório na Paulista carregando uma bicicleta dobrável. Falei para a minha filha que ela só está aqui porque um dia eu resolvi deixar o carro em casa.
Financeiramente eu sempre serei um proletário explorado, mas sou um pouco menos. Eu tinha 25 quando larguei o carro e estava sempre apertado.
Depois disso consegui guardar 10, 20, às vezes 50% do que ganhava. Paguei terreno, paguei a casa. Fiz as contas. Foi não ter carro.
Hoje tô comemorando com a minha mulher em um lugar legal. Pegamos um carro de aplicativo, vamos pegar uns quatro hoje. No final não chega perto do custo de uma revisão, sem falar no resto. A gente não paga o carro de aplicativo para andar nele, a gente paga para ele ir embora.
E as experiências? Sabe aquilo que vemos nas propagandas de carros? Então, eu compro só aquilo.
Por exemplo: Em 2018 dirigi uma super caminhonete 4x4 pela Patagônia. Isso foi tão gostoso quanto devolver ela no pequeno aeroporto de Balmaceda no fim da viagem.
Na 1° foto veículos disponíveis para aluguel em Puerto Aysén. Na segunda eu reforçando a minha masculinidade ao lado do monstro que... minha mulher pagou

. Saca a paisagem.
Me diz se faz sentido manter um troço desses para andar na cidade. Tem que ter autoestima muito baixa.
Caminhamos cinco quilômetros. A parte vermelha do caminho é trânsito parado. Bem na parte mais bonita. A paisagem ali? Essa da foto. Batemos papo, vimos o caminho no detalhe, exercitamos os corpos, no fim, a praia como recompensa.