Quem estava por trás das lentes que acompanhavam Ayrton Senna, a thread
Pra quem não teve a oportunidade de viver a euforia que ele causava aos domingos, as fotos de Senna são o que nos deixam mais perto de entender como ele era.
E, sendo elas tão importantes, ignorar quem estava por trás das lentes é quase um crime. Deixa eu te contar sobre eles.
Antes, queria deixar meu muito obrigada ao Victor, ao Thiago, ao Marcos e a todos que apoiam esse projeto de descomplicar a F1.
E, claro, à ROAST Cafés por me enviar três pacotes maravilhosos de café especial que fizeram minha semana muito feliz.
Muito obrigada pelo carinho
Bem-vindo à Europa
Depois de sete títulos no kart, um Ayrton Senna de 21 anos finalmente foi competir em carros de fórmula.
Estreou na Fórmula Ford 1600 e - com um carro “reciclado” do ano anterior - foi o novato com a melhor colocação na primeira etapa da temporada de 1981.
O primeiro pódio (agora com um carro mais digno) veio na corrida seguinte. A primeira vitória, na próxima.
No final, Senna esteve em 18 dos 20 pódios do campeonato - e, óbvio, levou o título.
Mas se a thread é sobre fotógrafos, por que é que eu to te contando tudo isso?
É que foi na F-Ford que nosso primeiro personagem chegou: Keith Sutton tinha 22 anos, uma câmera e uma paixão por automobilismo.
Estava começando a carreira de fotógrafo e, naquele primeiro pódio do Ayrton, o britânico o seguia por todo lado, tirando fotos pra Auto Esporte.
Senna, então, o convidou pra ser seu fotógrafo pessoal. Pro The Guardian, Keith contou que respondeu “claro, desde que você me pague”.
Sutton o acompanhou por toda a carreira na base. “Tínhamos a mesma idade, falávamos sobre música, filmes, garotas e como queríamos chegar à F1”.
Agora nossa história se divide em duas versões. Como já lhe demos a voz, vamos começar pela de Sutton.
Senna lhe pediu, quando chegou à F1 em 84, parte dos direitos autorais das fotos. Keith teria a exclusividade de acompanhá-lo, o salário e a cobertura das despesas das viagens.
Segundo Keith, que recusou a proposta de continuar com Ayrton, o fim da parceria foi bastante amigável.
Continuou fotografando Senna no padoque e nas pistas, como todos os outros, e o classifica como um grande amigo mesmo depois de 1984.
E chegamos no ponto de discordância.
Isso porque o jornalista Tom Rubython conta outra versão no livro Fatal Weekend (sobre Ímola-94).
De acordo com Tom, Senna pediu suas fotos das três temporadas que havia passado nas categorias de base - aquelas pelas quais ele já tinha pagado - e Keith se recusou a entregá-las.
E o fim da dupla não foi nada amigável: “Ayrton era muito compreensivo com todos os jornalistas e fotógrafos, a exceção de um: Keith Sutton”
“Senna quase não falava mais com Sutton e não gostava nada quando ele tirava fotos suas.”
Vamos acreditar em quem? Sinceramente, não sei.
O fato é que, sem Keith, Senna precisava de um outro fotógrafo.
PS: Talvez era esse o toquinho romântico que nossa história precisava (ou só uma injustiça comum para com quem fica nos bastidores), mas existe muito pouca informação disponível sobre o nosso próximo personagem.
O único autorizado
Em 1985, o repórter fotográfico Norio Koike foi convidado para assumir o lugar de Sutton - e o fez com uma dedicação absoluta.
“Tinha por Senna a devoção de um filho e a admiração de um grande torcedor”, foi como Celso Itiberê descreveu o japonês.
Norio, inclusive, tinha acesso à famosa casa de Angra dos Reis - e pelos olhos de Adriane Galisteu, o japonês chegava a extrapolar.
“Pendurava-se de incontáveis máquinas e lentes, pequenas, médias, grandes, zooms, teleobjetivas. Carregava uma caixa com quinhentos filmes.”
Aqui, outro trecho que achei bonitinho do livro da Adriane:
“Ouvi um clique quando Ayrton me surpreendeu com uma prolongada carícia no cabelo e, logo, um beijo. É possível que, sensível que é, Norio tenha retratado também a felicidade que minha alma buscava inutilmente esconder”
A Vida Pós-Ímola
E com toda a delicadeza que lhe era característica, Koike acompanhou a vida de Ayrton até o dia primeiro de maio de 1994.
No início daquele ano, ele havia comprado uma Nikon F5 - um modelo de câmera de 1990 que, hoje, tem o corpo avaliado em 800 dólares.
Assim que foi confirmada a morte de Ayrton, Norio Koike entregou sua F5 e tudo o que tinha consigo para o irmão de Senna.
Afinal, aquela câmera e todo o resto haviam sido comprados para fotografar Ayrton Senna. Se ele não estava mais entre nós, elas não teriam mais serventia.
Todas as mais de 40 mil fotos tiradas por Norio Koike entre 85 e 94 foram doadas à família Senna, e o japonês se recolheu completamente da vida pública.
Em 1995, o Instituto Ayrton Senna publicou o “Ayrton Senna: Official Photobook”: uma coletânea das fotos favoritas de Norio.
No mesmo ano, Keith Sutton também lançou seu próprio livro entitulado originalmente como “Meus 10 Anos com Ayrton Senna” e, mais tarde, como “Ayrton Senna: minha homenagem pessoal”.
Keith continua trabalhando com fotografia e segue até hoje pelos padoques da Fórmula 1.
Essa é a terceira thread de um especial dos 30 anos sem o Ayrton que vai rolar até 01.05 - e a ideia não é lembrar da morte, mas da vida e das pessoas com quem ele conviveu.
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